Tuesday, December 20, 2011

Dr. Camilo Lourenço - O mamífero


O imenso tempo de antena de que dispõe nos media tira-me completamente do sério! Perde inúmeras oportunidades para estar calado ou para manter as mãos à margem de um qualquer teclado! Com o frio que faz, aceite o meu conselho e experimente andar com as mãos nos bolsos, ininterruptamente!

Num artigo do JN intitulado "Já perceberam porque estamos falidos", este astuto comentador chama burro a Sócrates, literalmente! Não discuto comparações entre mamíferos mas, ao longo do artigo, frases como: "Sócrates não percebe nada de Economia e não aprendeu com os erros", "Só há uma coisa que não percebo nesta conversa: onde mesmo é que Sócrates "estudou" estas teorias?" e "Definitivamente não se deve tirar cursos ao fim-de-semana…", aludem bem ao que o comentador pensa de Sócrates. No entanto, à semelhança de outros trabalhos do Dr. Camilo Lourenço, o artigo está tão desfasado da realidade económica actual que coloca a nu as debilidades do autor neste âmbito. A ligeireza empregue na redacção do artigo leva-me a afirmar que tudo o que o Dr. Camilo Lourenço refere sobre a pessoa de Sócrates se adequa perfeitamente ao mamífero Camilo Lourenço! A zoologia tem predicados úteis, não acha?

Não refeito ainda do que li, escrevi alguns comentários sobre o teor do artigo, os quais passo a replicar:

"Qualquer economista sabe que, em economia aberta, um país terá dívida externa. É intrínseco! Estranho que Sócrates o saiba mas compreendo que o Dr Camilo Lourenço não o saiba!"

"Dr. Camilo Lourenço,
Antes de mais, em jeito de pista, pergunto-lhe se sabe qual o montante de dívida do sector privado. Como é fim-de-semana, avanço-lhe uma outra pista: tem ideia do número de países que estão numa situação, pelo menos, semelhante à de Portugal no que respeita à dívida pública?
Podemos e devemos criticar os erros do passado e quem os perpetrou mas, da forma como o fez, convém que tenha legitimidade académica para o fazer. Será que o Dr. Camilo tirou um curso de Economia ou um curso de Gestão? A julgar pelo que diz ou escreve, o Dr Camilo deverá ser membro honorário da ordem dos economistas! Oooopss, desculpe, pensava que era economista! Permita-me que lhe dê um conselho... Porque não juntar-se a Sócrates em Paris? Propunha-lhe que estudasse economia na cidade luz! Acredito que, findo o período académico, os seus comentários seriam de uma outra índole! Bom trabalho nos seus estudos!"

Comentário de um outro leitor:
"Provavelmente aprendeu na mesma universidade onde o sr. Camilo andou. Só com uma pequena diferença: Ele Socrates aprendeu alguma coisa o sr. pelos vistos não."

Sunday, December 11, 2011

Vincent van Gogh Museum

O alcance da minha visão não é o eco do que vejo mas reflexo do que sinto.
Por isso, quiçá, inútil pelo que percebo de uma realidade que me é estranha.
Ela é-me inatingível, incalculável e, por isso, plena.
Ela deixa de o ser enquanto por mim processada.
O filtro do meu cérebro desvirtua-a, molda-a desde a sua génese.
Este meu defeito ou feitio inato percorre, com amarras crónicas, as ruas do meu pensamento.
Enfim, uma imbecilidade natural que reflecte o esgotamento do alcance da minha visão com o que não consigo ver e que é proporcional à minha capacidade para apreciar arte.
Uma desproporcionalidade do meu eu, completamente leigo neste pecúlio.

No entanto, adoro testar os meus níveis de imbecilidade com alguns mergulhos na arte em geral com o intuito de interpretar, com todos os meus erros e limitações pessoais, trabalhos cujas palavras são escassas para descrever e que o nosso imaginário não contempla. Enviesada, com defeito, baça e errónea, a interpretação que faço é certamente míope mas é minha e guardo-a, com muito carinho, para mim!

Wednesday, October 05, 2011

Uma experiência internacional sobre até onde pode ir a resistência à carga tributária

"No castelo de Berzankin, onde se reúnem os mais poderosos do mundo, uma atividade inédita está a ser levada a cabo. Os banqueiros, os especuladores, os 'ratinguistas', os analistas económicos e, de um modo geral, todos os que querem o mal dos povos, reuniram-se para fazer uma experiência definitiva: saber qual a carga de impostos que cada povo aguenta.

Dois povos foram escolhidos para o efeito. O grego, herdeiro de uma cultura milenar, inventor do conceito de democracia e sucessivamente oprimido por macedónios, persas, romanos e turcos; e o português, marinheiros, descobridores de mundos e nação valente e indomável.

Das altas torres de Berzankin, todas ligadas com wireless às diferentes praças económicas, às diversas forças políticas e às múltiplas correntes sindicais e sociais, os analistas tentavam compreender a reação e a resistência aos impactos de novos e violentos impostos. Suíços, holandeses, americanos, franceses, ingleses e, sobretudo, alemães, mediam essa resistência numa escala dupla: a de mobilização, que ia da montra partida ao assalto ao Parlamento local; e a de indignação, que partia do grito solitário desesperado, para atingir os picos do brado dos No Name Boys (ou Super Dragões, ou Juve Leo).

A experiência iniciou-se na Grécia, pois de um povo habituado ao calcanhar de um macedónio, à trela do romano, enfim, à habilidade do turco, não se esperava grande resistência. Mas, curiosamente, houve logo montras partidas e, dois anos depois de iniciada a experiência, o Parlamento já tem de ser bem defendido.

Alguns dos poderosos do castelo de Berzankin chegaram a temer que igual experiência fosse levada a cabo em Portugal. Recordaram Aljubarrota e os cinco a três que, com Eusébio, demos à Coreia do Norte. Mas os líderes da experiência estavam inflexíveis: o propósito era científico, os objectivos sociais eram importantes e, de maneira mais lata, estavam todos a divertir-se.

Carregaram nos impostos sobre os pobres portugueses... e nada! Carregaram mais! E nada! Mudaram de Governo, tiraram políticos sempre preocupados com a vaidade pessoal, o penteado, a gravata e com a possibilidade do senhor da farmácia não gostar deles... E nada! Mais impostos! Nada! Sacaram metade de um salário... Nada! Houve uma montra partida de esperança, mas veio a saber-se que tinha sido um rapazito a jogar à bola que num chuto desgraçado a partira. Nada de nada! Os descendentes de marinheiros que deram mundos ao mundo, ficaram calmos e quietos, como se não fosse nada com eles. Berzankin emudeceu de pasmo! Aquele nada era aflitivo, prenúncio de uma grande tempestade ou consequência de uma enorme anestesia.

Neste momento, em que no fim das férias visito o castelo a cujas torres chegam informações de todo o mundo e de todas as praças, e de todos os políticos, e de todos os grupos sociais, verifico que o ambiente geral é de incredulidade. Ninguém esperava que do Minho ao Algarve não houvesse o mais pequeno protesto. Houve um congresso de um partido de oposição no qual Berzankin depositou esperanças... mas nada!

A experiência vai continuar, por ser, até agora, inconclusiva. Vêm novos impostos, novas formas de tirar dinheiro aos portugueses, mas no Castelo já corre uma teoria que vai fazendo adeptos - a de que os tugas eram muito mais ricos do que aquilo que pareciam."

Comendador Marques de Correia, Revista Única, Expresso de 17 de Setembro de 2011


Monday, August 01, 2011

Sabores do Mar vs Tasquinhas em Sines

A justificação de que constrangimentos legais ou a ASAE estão na base da ridícula oferta gastronómica dos Sabores do Mar talvez tenha algum fundamento. Digo isto porque estive nas tasquinhas em Sines e fiquei surpreso com a oferta gastronómica. Deparei-me com 13 tasquinhas na avenida da cidade! Mas que raio, 13!? Não encontrava justificação alguma para tamanha oferta até que dei por mim a pensar que talvez Sines pertença a um outro país, e a legislação não se lhe aplica, ou, à semelhança dos paraísos fiscais, Sines seja considerada paraíso gastronómico e escapa à tão propalada ASAE. Aliás, a avaliar pelo número de vezes que algumas pessoas aludem a esta entidade para justificar algo, faz-me crer, de forma convicta, que a ASAE circunscreve a sua acção à cidade de Peniche. Justificações de sobra para a oferta gastronómica dos Sabores do Mar, não?

Wednesday, March 30, 2011

Caleidoscópios


"Antes fosse claro escrever sobre isto. Mas há pessoas que parecem ter caleidoscópios dentro delas. Como se fossem feitas de milhares de pedacinhos coloridos, todos diferentes entre si. Por fora não se vê. Parecem normais. Pudesse alguém abri-las. Ou soubesse alguém olhá-las. Mas a verdade é que nessas pessoas se sente uma espécie de agitação permanente que impossibilita, a maior parte das vezes, que as entendamos na totalidade. Sobressaem nos encontros e nos sítios como girassóis brilhantes num campo raso de margaridas. Na volta, pergunto-me, todas as pessoas são pessoas-caleidoscópio. Apenas não lhes é dito quando são pequenas que podem ser assim. Apenas não tiveram a coragem de mergulhar nesse vórtice de possibilidades e potenciais conjugações e descobrir que são assim. Dá trabalho, fazer isso. Exige escolhas e ação.
Criámos um vício, nós. Achámos que nos era muito útil engavetarmo-nos em tipos e classificações genéricas e reduzir a realidade a grandes grupos. Eu, que vivo fascinada pelas diferenças e tendo a escapar-me às generalidades, fico paralisada perante grupos com nomes interessantes como "as mulheres", "os homens", "os engenheiros", "os políticos", "os médicos", "os jovens". Reconheço as vantagens da classificação, claro, em contextos de análise socioeconómica, mas fico por aí. Tira-me do sério esta mania que temos de reduzir a realidade a gavetas, quando o que realmente interessa é o que nos diferencia individualmente e a coexistência ativa dessas diferenças no meio deste grande espaço comum que é a sociedade. Não, não somos todos pessoas-caleidoscópio. Nem precisamos de ser. Precisamos, para que o mundo avance, é de ter a coragem de criar espaço real para o exercício da diferença ao mesmo tempo que alimentamos o que nos une. Tão fácil como parece. Como em tudo, é só uma questão de escolha"

Guta Moura Guedes in Revista Única do Expresso

Tuesday, March 29, 2011

Henrique Raposo - Jornalismo míope?

O excerto que se segue respeita a um comentário que efectuei a um artigo de Henrique Raposo, jornalista do Expresso. No seu último artigo, intitulado "Anular o BCP", Henrique Raposo refere que o mau momento que assola Portugal é da responsabilidade do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português. Pasme-se, do BE e do PCP! Assim, retorqui da seguinte forma:

”Como é possível ter esta visão da cena política!? Face à lucidez do diagnóstico que efectua, ausente do princípio ao fim do artigo, abstenho-me de o apreciar criticamente com detalhe pelo limite de caracteres que me é aqui imposto (no espaço para comentar a coluna do Expresso). Apenas dizer que a revolta que demonstra face aos partidos de esquerda, PCP e BE, tornam verdadeiramente míope o conteúdo de uma coluna de opinião que, supostamente, deveria ombrear politicamente, em sentido antagónico, com a coluna de opinião de Daniel Oliveira. Muito aquém do que uma visão de direita deveria explanar! As inúmeras considerações pouco abonatórias ao trabalho deste jornalista (!?) deveriam ser objecto de análise:


- http://cogitare.forumenfermagem.org/2010/04/a-lata-do-jornalista-henrique-raposo/
-
http://www.ateismo.net/2010/03/03/as-provocacoes-do-sr-henrique-raposo/

- http://blog.luispedro.org/posts/quem-e-o-henrique-raposo-para-falar-de-alto "

Tuesday, March 15, 2011

Afinal, quem é Pedro Passos Coelho (PPC)? O homem, tal como Sócrates, tem mérito!*


De uma estirpe similar à de Sócrates, PPC, ao que presumo, não terá concluído a sua licenciatura a um Domingo. Talvez a tenha concluído num Sábado? Num Feriado!? Se calhar, contrariamente a Sócrates, terá obtido o diploma num qualquer dia da semana. O elemento comum entre os dois é o ensino privado – Sócrates deu, literalmente!, cartas na U. Independente, PPC privilegiou a U. Lusíada. Descansai portugueses que a continuidade está assegurada pelo perfil similar entre os dois. Vejamos...

PPC conta actualmente com 47 anos de idade e concluiu a sua licenciatura em economia com 36 anos de idade. E, dito isto, não advém daí algum mal! As vicissitudes da vida ditam muitas vezes a obtenção de um diploma alguns anos mais tarde, cujo mérito para sua obtenção não deve ser minimamente beliscado. O que vos proponho é uma análise ao CV de PPC pré e pós licenciatura. Antes de ser licenciado, PPC leccionou matemática na Escola Secundária de Vila Pouca de Aguiar, foi colaborador e relações públicas na Quimibro e consultor na Tecnoforma. Para uma pessoa sem o dito canudo, convenhamos que PPC se movimentava bem no mercado. Após concluir a licenciatura, deixo para vossa apreciação o conjunto de cargos que PPC desempenhou (pode consultar o CV de PPC aqui).

Parece-me no mínimo estranho que, volvidos apenas dois anos após a obtenção do dito canudo, seja nomeado Director (Núcleos Urbanos de Pesquisa e Intervenção). Observe-se ainda no seu CV que, 3 anos após a obtenção do canudo, ou seja, em 2004, PPC desempenhou 3 cargos de administração, 2 cargos de consultoria, 2 cargos de direcção e ainda funções de docência no ensino superior – 8 cargos diferenciados, dos quais 5 de topo, num só ano é obra! Mas pasme-se o leitor que PPC consegue manter o ritmo de trabalho repetindo a façanha nos anos seguintes desmultiplicando-se em diferentes funções ao longo dos anos. PPC demonstra ter fibra inigualável no desempenho das funções de topo que lhe foram confiadas. Não está ao alcance de qualquer um! No mínimo, desgastante!

Vejamos a distribuição de cargos atribuídos a PPC (2001-2009):

2009- 6 cargos

2008- 7 cargos

2007- 9 cargos

2006- 8 cargos

2005- 7 cargos

2004- 8 cargos

2003- 3 cargos

2002- 2 cargos

2001- 2 cargos


Em média, de 2001 a 2009, PPC desempenhou 6 cargos por ano. Se tomarmos em consideração que essencialmente desempenhou funções de topo, trata-se de um verdadeiro braço de trabalho! O homem nem deve respirar com tantos cargos de administração e direcção. Nem ele, nem as suas contas bancárias! O homem está no topo do topo! Mas, afinal, qual é a formação de PPC!? Licenciado no estrangeiro? Terá mestrado? Doutoramento? MBA? Não!! De facto, ficamos a saber que a licenciatura em economia, numa universidade como a U. Lusíada, é afinal muito apreciada pelo mercado. Ao que parece, a avaliar pelo exemplo de PPC, num só ano, a U. Lusíada proporciona aos seus alunos aquilo que outros, provenientes de Universidades mais prestigiadas, não conseguem obter em 10 anos de trabalho. Jobs for the boys!? Isso é apenas prática do PS! No PSD privilegia-se a meritocracia. E alguém duvida que PPC tem mérito? Eu não!! É preciso ter lata! Ooops...perdão, mérito!


* PS (não confundir com partido socialista): a informação que dá azo a esta posta de pescada consta do CV de PPC disponível em http://avaria.no.sapo.pt/cv_ppc.pdf

Friday, February 18, 2011

África
















De onde estou não consigo ver o mundo como ele existe. O cheiro é genuíno e sinto-me preenchido pela imensa riqueza natural que aqui habita. A cada dia que passa, motivados pela proximidade do regresso, os sentidos ficam mais apurados. Consigo perceber agora que, de facto, se trata de um território único, algo que não encaixa nos estereótipos definidos entre Ocidente e Oriente. Possui uma aura especial interrompida por inúmeras guerras que recortaram culturas, separaram povos, semearam morte e gizaram um mergulho orquestrado no subdesenvolvimento. O passado deste povo sente-se no ar, respira-se a cada esquina semi-acabada – onde se deitam os buracos com pedaços de estrada – e faz-me pensar que os culpados de outrora, o são no presente e o serão no futuro. Neste território distante do mundo, aproveitei para me alhear do meu eu que o tempo se encarregará de aproximar. Enquanto contemplo um céu reluzente e me deleito com o silêncio ensurdecedor de alguns pássaros, assusto-me, não com a aranha que entretanto veio ao meu encontro, mas quando dou por mim a pensar no regresso ao meu eu racional. Um contraste no meu ser cujo espaço ajuda a definir e o tempo a moldar. Obrigado África!

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"Pelas tuas mãos medi o mundo  E na balança pura dos teus ombros  Pesei o ouro do Sol e a palidez da Lua." Tu, sempre tu, minha pr...