Wednesday, October 05, 2011

Uma experiência internacional sobre até onde pode ir a resistência à carga tributária

"No castelo de Berzankin, onde se reúnem os mais poderosos do mundo, uma atividade inédita está a ser levada a cabo. Os banqueiros, os especuladores, os 'ratinguistas', os analistas económicos e, de um modo geral, todos os que querem o mal dos povos, reuniram-se para fazer uma experiência definitiva: saber qual a carga de impostos que cada povo aguenta.

Dois povos foram escolhidos para o efeito. O grego, herdeiro de uma cultura milenar, inventor do conceito de democracia e sucessivamente oprimido por macedónios, persas, romanos e turcos; e o português, marinheiros, descobridores de mundos e nação valente e indomável.

Das altas torres de Berzankin, todas ligadas com wireless às diferentes praças económicas, às diversas forças políticas e às múltiplas correntes sindicais e sociais, os analistas tentavam compreender a reação e a resistência aos impactos de novos e violentos impostos. Suíços, holandeses, americanos, franceses, ingleses e, sobretudo, alemães, mediam essa resistência numa escala dupla: a de mobilização, que ia da montra partida ao assalto ao Parlamento local; e a de indignação, que partia do grito solitário desesperado, para atingir os picos do brado dos No Name Boys (ou Super Dragões, ou Juve Leo).

A experiência iniciou-se na Grécia, pois de um povo habituado ao calcanhar de um macedónio, à trela do romano, enfim, à habilidade do turco, não se esperava grande resistência. Mas, curiosamente, houve logo montras partidas e, dois anos depois de iniciada a experiência, o Parlamento já tem de ser bem defendido.

Alguns dos poderosos do castelo de Berzankin chegaram a temer que igual experiência fosse levada a cabo em Portugal. Recordaram Aljubarrota e os cinco a três que, com Eusébio, demos à Coreia do Norte. Mas os líderes da experiência estavam inflexíveis: o propósito era científico, os objectivos sociais eram importantes e, de maneira mais lata, estavam todos a divertir-se.

Carregaram nos impostos sobre os pobres portugueses... e nada! Carregaram mais! E nada! Mudaram de Governo, tiraram políticos sempre preocupados com a vaidade pessoal, o penteado, a gravata e com a possibilidade do senhor da farmácia não gostar deles... E nada! Mais impostos! Nada! Sacaram metade de um salário... Nada! Houve uma montra partida de esperança, mas veio a saber-se que tinha sido um rapazito a jogar à bola que num chuto desgraçado a partira. Nada de nada! Os descendentes de marinheiros que deram mundos ao mundo, ficaram calmos e quietos, como se não fosse nada com eles. Berzankin emudeceu de pasmo! Aquele nada era aflitivo, prenúncio de uma grande tempestade ou consequência de uma enorme anestesia.

Neste momento, em que no fim das férias visito o castelo a cujas torres chegam informações de todo o mundo e de todas as praças, e de todos os políticos, e de todos os grupos sociais, verifico que o ambiente geral é de incredulidade. Ninguém esperava que do Minho ao Algarve não houvesse o mais pequeno protesto. Houve um congresso de um partido de oposição no qual Berzankin depositou esperanças... mas nada!

A experiência vai continuar, por ser, até agora, inconclusiva. Vêm novos impostos, novas formas de tirar dinheiro aos portugueses, mas no Castelo já corre uma teoria que vai fazendo adeptos - a de que os tugas eram muito mais ricos do que aquilo que pareciam."

Comendador Marques de Correia, Revista Única, Expresso de 17 de Setembro de 2011


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"Pelas tuas mãos medi o mundo  E na balança pura dos teus ombros  Pesei o ouro do Sol e a palidez da Lua." Tu, sempre tu, minha pr...